Após quase um ano de pandemia da COVID-19, eu perdi o meu sogro. Foi em outubro de 2020. Acabou sendo um infarto que o levou, não o terrível vírus. Mesmo armados de álcool e máscaras, e nos submetendo a um auto confinamento, a morte, que nós tentamos a todo custo impedir que entrasse pela porta da casa, deu um jeito de nos atingir e isso foi devastador para toda a família. Meu filho, que na época tinha seis anos, passou a conviver com a tristeza do luto que assolou a todos nós e com a imagem da morte muito de perto.
A ideia de escrever um livro surgiu como uma possibilidade de mudar o foco dele para algo mágico, algo belo. Ao mesmo tempo, havia a intenção de fazer uma história que o envolvesse na escrita e deixasse ele se participar ativamente conforme a história ia crescendo.
A pandemia trouxe para ele uma visão de vida e de morte diferente do comum. A vida se transformou de um dia para o outro. Ele sabia que um perigo na forma de um vírus letal havia se espalhado e o impediu de ter uma vida normal. Porém, para uma criança da idade dele, era difícil entender muito bem o que aquilo significava e o motivo de não poder mais sair de casa por tanto tempo, ou não poder ir para a escola ou até mesmo sair para brincar como antes. Tudo passou a ser controlado: o álcool, as máscaras, o fim das visitas.
A morte do avô contribuiu para piorar as coisas. A tristeza da família e a morte ameaçadora que ainda existia atrás da porta. Do outro lado havia a doença, a morte, o vírus. A porta era o limite entre o ambiente seguro e o mundo perigoso lá fora. Eu quis mostrar que nem todas as portas teriam que ser assim. E se existissem portas que abrissem para a magia, para o extraordinário?
Assim, surgiu a ideia de um menino que passou a ser “superprotegido” porque tinha algo de especial. Um menino que não podia nem “sonhar” para ficar escondido. Os portais e o menino que não podia sonhar. A inspiração na Alemanha veio da nossa ascendência e da minha paixão pelos contos dos Irmãos Grimm. A proximidade com o Natal e o dia de São Nicolau foram o pontapé para dar início à história.